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© David Marques
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Depois que a importação de carros no Brasil foi banida, nos anos 1970, uma indústria inteira se formou para criar alternativas locais
O Brasil nunca foi famoso por ter um fabricante internacionalmente aclamado de esportivos, mas, mesmo assim, uma série notável destes modelos foi desenvolvida dos primeiros passos da indústria automotiva no país, nos anos 1960, até os anos 1990.
Em 1990, porém, uma reabertura abrupta do mercado de carros importados forçou os fabricantes independentes a interromper suas atividades, subitamente não lucrativas, para nunca mais retomá-las.
Os 10 exemplos citados aqui não necessariamente refletem uma evolução cronológica, mas sim a natureza altamente eclética deste segmento.
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1. Brasinca 4200GT Uirapuru (1964)
O Uirapuru foi a criação mais famosa do talentoso engenheiro espanhol Rigoberto Soler. Ele não apenas foi o primeiro esportivo projetado e produzido no Brasil, mas também foi o primeiro a superar a barreira dos 200 km/h. Produzido com carroceria de aço pela Brasinca, o Uirapuru tinha um chassi feito pela própria empresa e uma carroceria criada artesanalmente. Quando começou a ser vendido, ele custava o mesmo que um Ford Mustang em uma época em que a importação ainda era permitida (parou de ser em 1976).
Impulsionado por um motor de 6 cilindros em linha de 4,2 litros, ele entregava inicialmente 155 cv. Com seu vidro traseiro envolvente, o Uirapuru é muitas vezes citado como o carro que trouxe “inspiração” ao Jensen Interceptor. Ele deixou de ser fabricado em 1967, após a produção de 73 unidades, sendo 2 delas conversíveis e uma o Gavião, uma versão perua feita para a polícia.
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2. Bianco S (1976)
O Bianco S é a obra mais famosa do carrozziere Toni Bianco. Para seu arrependimento, ele vendeu o projeto à empresa que tornou sua produção viável. Nascido das cinzas do Fúria, o Bianco S era, na verdade, um carro de desempenho bastante comedido.
Ele foi construído usando o chassi do VW Brasilia, que incluía o motor de 4 cilindros boxer de 1,6 litro e 65 cv, com dois carburadores Solex 32. Sem nenhuma grande melhoria, apesar da leve carroceria de fibra de vidro. Seu baixo centro de massa lhe dava excelente dinâmica, mas a pouca altura trazia o efeito colateral de uma cabine desastrosa do ponto de vista ergonômico.
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3. L’Automobile Ventura (1975)
A L’Automobile foi co-fundada em 1975 pelos empresários argentinos Claudio Campuzzano e Guillermo Pardo. Ela não apenas teve sucesso em criar um esportivo, mas também consolou aqueles que sentiam falta do VW SP2.
Os dois carros tinham estilos e motores muito parecidos: uma combinação de frente longa e motor traseiro. Infelizmente, os números de desempenho não estavam em linha com o perfil elegante devido ao motor da VW Variant, refrigerado a ar, que exigia intermináveis 17 s para levá-lo de 0 a 100 km/h e marcava apenas 154 km/h de velocidade máxima.
Apenas 8 carros eram produzidos por mês. O Ventura foi vendido até nos EUA, onde era oferecido ao lado de réplicas da L’Automobile como um kit car para escapar de exigências de segurança mais restritivas.
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4. Farus ML-929 (1980)
O Farus (de FAmiglia RUSso) era um esportivo com motor central da Fiat. Ele era uma criação de Alfio Russo e de seu filho Giuseppe, ambos italianos, donos da Italmecânica, uma fabricante de equipamentos de cozinha baseada em Minas Gerais. Ele tinha chassi “espinha dorsal” de aço, freios a disco nas quatro rodas e suspensões McPherson – tecnicamente muito mais avançados do que muitos de seus rivais.
Inicialmente equipado com um motor 1.3 de 72 cv, seus números de desempenho melhoraram consideravelmente com a introdução do motor 1.6 do VW Passat TS, dos 1.8 e 2.0 do Chevrolet Monza e também do VW AP 2000. Planos para uma versão de exportação para os EUA, com motor do Chrysler Laser, quase saíram do papel no final dos anos 1980, mas a produção foi encerrada em 1990, quando a empresa fechou suas portas.
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5. Aurora 122-C (1990)
Um dos últimos esportivos brasileiros a ser criados, pouco depois de o mercado ter sido reaberto, nos anos 1990, o 122-C nasceu para ser a máquina dos sonhos daquela era. Com uma clara semelhança com o Ferrari F40, seu desenvolvimento foi conduzido pelo engenheiro de competições Oduvaldo Barranco em parceria com colegas argentinos. O 122-C ostentava um monocoque altamente complexo de fibra de vidro. O motor vinha do Chevrolet Monza, mas tinha capacidade ampliada para 2,2 litros. Turbinado, ele chegava a 214 cv.
Depois de sua estreia no Salão do Automóvel de 1990, ficou tristemente claro que o Aurora era um carro que nasceria devendo muito a seus rivais importados. A ausência de injeção eletrônica era provavelmente o exemplo mais gritante.
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6. Corona Dardo (1979)
O braço brasileiro da Fiat não apenas endossou essa “versão” do Fiat X1/9, mas também lhe ofereceu distribuição, assistência técnica e garantia de fábrica. Usando os mesmos motores do 147 Rallye, o Dardo foi criado por Toni Bianco para a Corona, uma subsidiária da Caloi, o maior fabricante brasileiro de bicicletas da época.
Infelizmente, ele era muito caro e tinha grandes problemas de fabricação em sua carroceria de fibra de vidro, para não falar do problemático câmbio de 4 marchas da Fiat. Para piorar as coisas, o motor 4-cilindros 1.3 de 72 cv não dava ao carro desempenho suficiente – nem mesmo depois de ter sido trocado por um 1.5 de 96 cv. A produção chegou a cerca de 300 unidades entre 1979 e 1985.
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7. Hofstetter Turbo (1980)
O Hofstetter começou sua vida na Suíça, nas mãos do milionário brasileiro Mario Richard Hofstetter. O primeiro protótipo foi terminado em 1980 – época em que ele já havia voltado ao Brasil – e apresentava um motor Ford com transmissão Hewland.
O desenvolvimento de um segundo protótipo começou em 1982. Apesar de conservar o desenho original, ele teve de usar a plataforma e os motores de carros brasileiros. Uma versão turbinada do motor AP 1800 da Volkswagen foi inicialmente a melhor escolha. Sua estreia oficial aconteceu no Salão do Automóvel de 1984, onde o estilo de “nave espacial” gerou 13 encomendas. Apesar de seu grande potencial, menos de 20 carros foram construídos.
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8. Puma GT (1966)
Desenvolvido a partir do GT Malzoni, que teve versões de rua e de pista, carroceria de fibra de vidro e motor DKW preparado, o Puma GT evoluiu para se tornar o esportivo historicamente mais importante produzido no Brasil. Suas duas gerações foram criadas pelo italiano Rino Malzoni. A segunda delas, apresentada em 1968, com motor VW, colocou o carro em uma rota comercial robusta.
Ele usava o chassi encurtado do VW Karmann Ghia, com um motor 1.5 de 60 cv, que seria mais tarde substituído pelo chassi do VW Brasilia, muito mais largo, com um motor 1.6 de 70 cv.
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9. Santa Matilde SM 4.1 (1978)
De longe o esportivo mais prestigiado e exclusivo a ser produzido no Brasil, o SM 4.1 também era o modelo mais caro à venda ao longo dos anos 1980. Criação de Humberto Pimentel, dono da Santa Matilde, uma empresa de maquinário para fazendas e ferrovias, o carro se tornou realidade com a ajuda de sua filha, Ana Lídia, e de um time de especialistas.
Originalmente apresentado como um cupê – posteriormente uma versão conversível foi acrescentada à linha – ele trazia um motor Chevrolet de 6 cilindros em linha que lhe dava 171 cv, suficientes para uma velocidade máxima de 180 km/h e um 0 a 100 km/h em 12 s. Os padrões de manufatura eram tão rigorosos que o próprio Pimentel inspecionava a linha de montagem. Para desgosto de seus funcionários, ele riscava a pintura e rasgava bancos que julgasse estarem “imperfeitos”. A produção nunca se recuperou plenamente de uma greve na fábrica em 1987.
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10. Miura e Miura MTS (1977)
A marca Miura, de 1977, rapidamente estabeleceu uma reputação impressionante e se tornou a fabricante independente mais relevante dos anos 1980. Criados e produzidos pela Aldo Auto Capas (mais tarde rebatizada de Besson Gobbi SA), os Miura foram os primeiros carros fabricados no Sul do Brasil.
O primeiro Miura juntava sua carroceria em forma de cunha a um chassi de VW Brasilia. Uma manufatura quase sem falhas, aliada a uma aparência extraordinária, ajudava a compensar o desempenho pobre.
Em 1979, o Miura MTS ganhou o motor do VW Passat, um 1.6 refrigerado a água, apesar de manter muitos dos componentes originais do trem de força anterior. Em 1982, ele se tornou o primeiro carro brasileiro com uma versão de exportação com direção à direita, por conta de um acordo de distribuição em Cingapura. Os dois carros foram aperfeiçoados virtualmente a cada ano até começarem a dar lugar a modelos novos em meados dos anos 1980, como o Targa e o Saga.